Quem Sou

Olá, sou a Haryane
Olá, eu sou Haryane Santos e quero muito que você conheça a minha história.
Eu demorei um tempo para descobrir que o prazer que eu tinha de costurar para mim, não era o mesmo de costurar para os outros e que amava incentivar as pessoas a fazerem o mesmo, a realizarem as coisas para si. Acredito que o sentimento é o mesmo de quem gosta de cozinhar a própria comida. Pois bem, eu gosto de "cozinhar" as minhas roupas.
Essa independência me traz alívio sobre as "imposições" da moda. Afinal, eu não preciso comprar roupas, eu mesma posso fazê-las. Não preciso pagar fortunas, eu posso comprar o tecido e costurar exatamente do jeitinho que eu quero. ESSA SOU EU!
Não sou contra a indústria da moda, nem desqualifico o preço que algumas marcas dão aos seus produtos, mas gosto de ter opções, gosto de poder decidir entre adquirir ou fazer aquela peça que eu desejo e é essa a minha intenção aqui: quero dar a você a oportunidade de decidir entre essas opções.
Trabalhei como chefe de produção em ateliê de costura. Também atuei como figurinista, estilista, costureira, vitrinista, cenógrafa e agora dou aula de costura, porque a liberdade de construir algo para si é imensa e ensinar isso não tem preço.
Filha e neta de costureiras, formada em desenho de moda e vitrinismo pelo Senac, aprendi na prática as manobras da costura e do desenvolvimento criativo.
Durante oito anos, fui aluna de Dança Moderna e Jazz, do professor Maurício Quintairos. Descobri que o vestuário tem papel fundamental sobre o movimento do corpo na dança, além de conseguir desenvolver vasta experiência sobre confecção e criação de figurinos no ateliê da minha mãe, que durante anos trabalhou como modelista de companhias de teatro.
Entre as minhas criações há coleções inteiras, figurinos para musicais e vestidos de noiva para as amigas.
Além do desenvolvimento criativo, ainda adquiri forte ligação com a linha de produção e "chão de fábrica" durante o período em que trabalhei em ateliês.
Instagram @haryanessantos e @entreascosturas
Um pouco mais sobre mim ou bem mais do que apenas um pouco.
Olha, não vou mentir, daqui para frente a conversa é um grande punhado de blá, blá, blá e muita nostalgia sobre a minha vida costurando. Então, se você decidir ficar por aqui e não seguir, eu vou entender, juro! Sem ressentimentos. Mas, porém, contudo, todavia, se você permanecer lendo, vai entender todo esse "babado" que eu chamo de vida. E olha, não é por nada não, mas o "babado" é grande.
Bom, já que você insiste, vamos lá...
Eu, a costura e minha mãe
Lembro pouca coisa dessa tarde que, para mim, foi muito marcante. Eu tinha uns oito anos e estava sentada no chão, pegando os retalhos que sobravam da roupa que a minha mãe estava costurando. O tecido era cinza e eu estava tentando fazer uma bermuda para a minha boneca, cortando o tecido como se fosse uma bandeirinha de São João, fracassei miseravelmente todas as vezes que tentei o mesmo método.
A minha mãe, cansada de me ver fracassar, pegou outro pedaço do mesmo tecido e cortou o que, para mim, parecia ter o formato de uma blusa sem o decote. Eu disse: "Mas eu quero uma bermuda...". Ela não respondeu e continuou com o tecido na mão. Então, ela pegou uma agulha, enfiou uma linha na mesma cor do tecido e costurou as laterais da suposta blusa. Foi aí que aconteceu a mágica: ela inverteu a “blusa”. As pontas que, para mim, serviriam para passar os bracinhos da minha boneca, eram na verdade o fundo de uma bermuda. "PURA MÁGICA!", foi o que eu pensei.
E, assim, a minha relação com a costura se concretizou, não sabia como ou quando, mas eu queria mais dessa mágica. Passei a minha infância basicamente costurando roupas para as minhas bonecas. Nenhuma delas teve filhos, maridos ou sabiam cozinhar, mas tinham um guarda-roupa de papelão enorme, com um pedaço de madeira que atravessava as paredes da caixa e vários cabides de arame feitos pelo meu pai. Eu amava aquele guarda-roupa feito de caixa de papelão, porque ele guardava toda a mágica da costura dentro dele.
Eu, a costura e meu pai
Vou te falar a real, eu desconfio que o meu pai não saiba pregar um botão sequer, mas se você perguntar para ele a diferença entre zíper invisível, comum, reforçado e de encaixe... ele te dá uma aula!
A minha experiência com o meu pai era ver como ele foi parceiro da minha mãe. Ele levava as encomendas, saía para comprar linha, aplicava ilhós manualmente antes de termos a máquina e, se a minha mãe deixasse, ele sentaria à máquina para costurar. Ela nunca deixou, porque não queria arriscar a integridade física da máquina, mas com o tempo o meu pai acabou se tornando uma espécie de técnico, que sempre conseguia ajustar os pontos e colocar a máquina nos eixos.
Na época em que eu fazia dança, eu tinha uns 13 anos de idade quando participei de um espetáculo chamado "Carmen de Bizet". A coisa toda era muito grande, com muitos bailarinos e figurinos, eu mesma trocava de roupa duas vezes durante a apresentação e minha mãe trabalhava na época para a companhia. Eu me lembro da nossa casa abarrotada de tecidos, rendas e collants para entregar.
Uma das roupas envolvia um corselet com a lateral cheia de ilhoses e essa era a incumbência do meu pai. Não lembro quantos corselets havia, ele tinha que abrir uma fenda na roupa, encaixar o ilhós e, um por um, pressionar na máquina. Não sei quantas vezes ele repetiu o procedimento, mas me lembro dele fazendo isso enquanto divertia a minha mãe e as costureiras com piadas durante todo o processo.
O meu pai é dono de um bom humor que eu vou te falar… tá ficando um velho e meio ranzinza, mas ainda é bom de piada.
Eu, a costura e minha avó
Vou te contar o que eu sei sobre a Marcelina: ela era missionária da igreja "Deus é Amor". Eu digo “missionária” porque ela não se limitava a ir à igreja, ela se importava com os outros.
Eu me lembro do meu pai, o genro dela, uma vez falar: "Se a Marcelina tiver dois alfinetes, ela pega um e leva para alguém que precisa". Era exatamente assim, só que nem sempre ela tinha dois "alfinetes". Às vezes, ela só tinha um, mas o desejo de ajudar estava nela e foi aí que começou a saga da minha avó. Ela começou a fazer "pompons", scrunches para amarrar os cabelos, com os retalhos da minha mãe e vendia para as irmãs da igreja, eu tinha uns 9 anos na época. Ah, sim, minha avó virou uma concorrente forte dos retalhos da minha mãe!
Como a visão dela já não era a mesma coisa, eu era a costureira oficial do negócio. Ela me falava como queria, me mostrava como mexer na máquina e eu costurava as scrunches para ela vender. Essa foi a forma que ela encontrou para continuar comprando dois "alfinetes" para poder dar um para quem precisar e eu, nada boba, aprendi a mexer na máquina de costura da minha mãe com a desculpa de ajudar a minha avó. A vovó foi a visionária do meu projeto!
Eu, a costura e minhas "tias"
Das "tias" da minha vida, todas eram tias. Estou falando das costureiras que passaram pelo ateliê da minha mãe. No Pará, (sim, sou paraense) é comum uma criança ou adolescente chamar alguém mais velho de “tio” ou “tia” como sinal de respeito e, durante muito tempo, era dessa forma que minhas irmãs e eu tratávamos as costureiras que trabalhavam com a minha mãe.
A minha mãe tinha o hábito de vez ou outra reservar um dia para que uma dessas costureiras trabalhassem apenas nas nossas roupas, um dia para cada filha, claro! E durante muito tempo foi assim. Até que eu comecei a ficar insatisfeita, não com a qualidade da costura, mas com o resultado que não ficava igual ao que eu imaginava. Foi aí que surgiu a necessidade de eu começar a arriscar fazer as minhas roupas. Que medo!
Agora não eram mais retalhos, eu estava com tecidos inteiros nas minhas mãos e errar era fatal. Pois bem, foi fatal para muitos tecidos! Você nem imagina a quantidade de pano que estraguei, foi um festival de "não entra", "ficou curto", "não era bem isso", mas não desisti e, com o tempo, começou a dar certo. Enfim, parei de estragar tecidos!
No que diz respeito às "tias", elas não pararam totalmente a produção de roupas para mim, mas agora eu sabia exatamente o que pedir.
E por falar em tias... Preciso falar brevemente sobre a tia Myriam, que não era só uma super incentivadora, ela pagou o meu primeiro curso de desenho quando eu tinha 14 anos de idade com uma estilista de loja de tecidos, isso em uma época em que era impensável um curso de moda em Belém, PA. Além, é claro, das nossas conversas que acrescentaram tão profundamente em minha vida que nem sei explicar.
Eu, a costura e minhas irmãs
Vou te contar primeiro sobre a minha irmã do meio, essa foi parceira de crimes! Por volta dos meus 14 anos, a minha mãe viajou para confeccionar umas peças de carnaval, acredito que ela ficou uns dois ou três meses fora, não lembro direito, mas isso aconteceu bem na época em que eu estava aprendendo a costurar peças para mim.
No dia que a minha mãe viajou, além de todas as recomendações de praxe de uma mãe para a sua prole, ela incluiu um parágrafo especial para mim. NÃO QUEBRE AS MINHAS MÁQUINAS E NÃO ESTRAGUE OS MEUS TECIDOS! Se você conhecesse a minha mãe nessa época, saberia que o mais recomendado era trancar todas as coisas de costura em um quarto e só abrir no retorno dela. Eu fiz isso? Claro que não!
Eu até queria, mas tinha uma voz me dizendo para não fazer, era a voz da minha irmã do meio. Ela sempre incentivou o meu lado criativo, ela pegava os meus desenhos de roupas e mostrava para os amigos dela, além de apoiar qualquer loucura que eu pensasse em fazer com um tecido.
Então, não só não fizemos o que seria o recomendado, como abrimos um ateliê na quitinete que os meus pais tinham para alugar ao lado de casa. Eu me lembro da parede azul da quitinete e da tinta spray que a minha irmã achou no meio das coisas da minha mãe. Minha irmã me deu a tinta e disse: "Faz um croqui na parede!". Não pensei duas vezes, fiz mesmo! Depois ela trouxe uma peça de tecido com mais de 50 metros de cotton da minha mãe e disse: "Vamos fazer blusas para vender!".
Quer saber o resultado? NENHUMA BLUSA VENDIDA, 50 METROS DE COTTON ESTRAGADOS E UMA LISTA GRANDE DE DESCULPAS PARA DAR À MINHA MÃE.
A experiência não foi o que esperávamos, mas foi proveitosa. Tenho mais lembranças de aprendizado com os meus erros do que com os meus acertos e na minha adolescência tentando aprender a costurar, a minha irmã estava a todo vapor para me apoiar.
A minha irmã caçula não teve tanta participação naquela época por ser muito nova, mas nesse momento, essas palavras só estão sendo escritas porque ela ouviu o meu projeto e disse "Isso é incrível, você deveria fazer!".
Eu, a costura e Deus
Vou te falar, tratar com Deus não é dos meus momentos mais simples. Normalmente, é regado a algumas lágrimas, um pouco de irritação (da minha parte, é claro) e muitos, muitos, muitos PORQUÊS.
Não, calma, do início agora...
Eu sempre frequentei igrejas com a minha avó materna, mas considero a minha conversão apenas aos 13 anos de idade, em uma igreja perto da casa onde fui criada. Desde esse dia, a minha vida tem sido uma saga em muitos sentidos.
Mas já quero esclarecer uma coisa: não sou nem de longe um exemplo perfeito de cristã. Não estou aqui com o objetivo religioso e já coloco que, entre os meus pecados, tem muita fornicação, umas fofocas sobre a vida alheia, briga com as irmãs, uns estresses com meus pais, glutonaria, umas mentiras por atrasar compromissos, uns xingamentos, avareza e por aí vai. Então, não pense que sou uma beata ensandecida, sem pecados e beirando a perfeição. Aliás, faz meses que não frequento uma igreja.
Só entenda que a minha relação é muito forte com Deus e não com a instituição da Igreja.
Nem sempre foi assim. Houve uma época em que eu participava muito das programações da minha igreja e eu me lembro de ver uma apresentação muito bonita do grupo de dança, mas a única coisa que eu conseguia focar era que a roupa que elas usavam não era nem de longe adequada para os movimentos dos corpos delas! Nessa época, eu trabalhava em uma loja de tecidos. Eu era a estilista da loja e, como funcionária, eu tinha desconto na compra de tecidos, e foi o que fiz: comprei 15 metros de musseline amarela e presenteei o grupo de dança da igreja com 10 novos vestidos.
Eu sempre me perguntava (e perguntava para Deus também) o que era melhor para mim, o que seria o certo na minha vida profissional, já que eu sempre senti que me encaixava em muitas áreas. Eu sempre gostei de escrever e sempre gostei de costurar. Sinceramente, nunca vi ligação entre uma coisa e outra, mas não me sentia muito feliz em abrir mão de nenhuma dessas coisas. No entanto, no meio de todas essas dúvidas, eu me vi na faculdade de Direito, trabalhando como assistente em um escritório e amando a novidade! Amando tanto que vendi tudo o que eu tinha de costura para uma amiga e parti para essa nova fase.
Costurar e costurar
Pois bem, não importavam as voltas que a vida desse, eu sempre voltava de alguma forma a costurar: ou para ganhar o pão de cada dia, ou para matar saudade da máquina de costura e de criar as minhas roupas. Ainda assim, tudo parecia meio embaçado, não fazia sentido, eu não queria costurar como hobby, mas ainda não queria ter um ateliê ou coisa do tipo. Então, um dia, depois de ter pedido demissão do escritório em que eu trabalhava, no meio de uma possível depressão, eu vi a possibilidade de dar aulas.
Então fui chamada para a minha primeira aula de costura com um aluno maravilhoso. Logo depois, outro aluno, e outro, e outro... E, durante as aulas, eu sempre perguntava coisas sobre a vida dos alunos, sobre suas religiões, famílias, e contava sobre a minha também. Sem perceber, eu criava um vínculo baseado na troca de experiências, além da costura que experimentávamos juntos.
Eu percebi que o que me deixava feliz não eram só as aulas, mas toda a conversa, papo furado e aprendizado que os alunos e eu trocávamos nesse tempo. Era gostoso ver o quanto eu tinha para contribuir e o quanto cada aluno contribuía na minha vida também.
Foram 15 anos desde o dia em que saí da casa dos meus pais até o início desse projeto, e, durante esse tempo, eu passei por tanta coisa, tantas dificuldades, e a pergunta que eu sempre fazia para Deus era: POR QUÊ? Nunca ouvi a resposta ou talvez nunca estive preparada para ouvir, até que eu entendi que tudo o que passei era Deus, me mostrando e ensinando na prática o que algumas pessoas passam a vida entendendo apenas na teoria.
Tanta coisa aconteceu, tanto aprendizado, que se não fossem esses anos de dificuldades financeiras, dúvidas, oscilações emocionais e uns estresses com "O" Divino, eu não teria material para falar aqui com vocês. Pois é, estou cheia de material: tem vitórias, derrotas vergonhosas com aprendizados eficazes, muitas dúvidas solucionadas e outras à espera de solução.
Espero de todo o meu coração que esse seja o início de algo intenso entre você e essa que vos fala, e que você aprenda a costurar ou, se preferir, aprenda apenas a apreciar o que será compartilhado aqui.
Um grande beijo!
Haryane Santos