A junção dos sentimentos que me trouxeram até aqui
- haryane santos
- 18 de jul. de 2023
- 7 min de leitura
Atualizado: há 23 horas

Você vai gastar tempo e dinheiro com algo que não vai trazer tanto lucro?” “Será que você realmente sabe fazer o que se propõe?” “Essa ideia pode ser a coisa mais ridícula que já ouvi e, provavelmente, as pessoas vão rir de você. Tem certeza de que quer continuar?”Essas são as perguntas que escuto toda vez que recomeço o projeto de incentivo à costura e o blog. A pior parte é de onde vem o questionamento: de mim mesma.
O projeto
Aprendi a costurar muito cedo, primeiro incentivada pela “necessidade” que minhas bonecas tinham de ficarem lindas (risos). Com o tempo, percebi que eu também queria me sentir assim. Mas o mais legal de aprender a costurar era que, toda vez que alguém gostava da minha roupa, eu podia falar: “fui eu que fiz”. Nada me dava mais prazer do que essa sensação de autossuficiência. Eu ficava extasiada com o fato de poder usar o que quisesse, desde que me esforçasse para aprender como fazer. Esse era o único investimento com lucro perpétuo: aprender. Assim, eu nunca mais ficaria babando em uma revista de moda sem a perspectiva de um dia usar aquelas roupas.
Depois que me tornei professora de costura, passei a ouvir histórias muito parecidas com a minha. Minhas alunas também tinham o desejo de costurar as próprias roupas, e isso era tão legal! Eu me identificava com cada conversa e, embora cada uma tivesse uma motivação principal específica, todas compartilhavam um motivo em comum: ter na costura um momento de relaxamento e prazer.
Não demorou para que eu começasse a pensar em uma maneira de democratizar ainda mais essa ideia de usar a costura como uma forma eficiente de lazer e de fazer com que as pessoas se sentissem incríveis com o resultado de suas criações. Então pensei em um espaço — este site — onde eu pudesse compartilhar minhas histórias e aprendizados com a costura.
E eu fiz isso! Demorei um tempo formatando o site por dois motivos: primeiro, não contratei um profissional experiente, pois não tinha como pagar o preço de um trabalho assim — apesar de valer cada centavo (não discuto isso). O segundo motivo era que, por ser um projeto intimista e sem grandes expectativas, eu queria que fosse todo feito à mão. Pesquisei sites que costumo frequentar, projetos similares, excluí o que não me agradava e copiei — sim, copiei — o que me apetecia. E, finalmente, cheguei a um resultado que me fez feliz.
Uma avalanche de emoções
Você talvez se pergunte por que eu queria um projeto intimista. Medo. Essa é a resposta simples. Mas vou dar a resposta complexa também.
Eu morria de medo de não ser boa o suficiente para vislumbrar algo grande — a tal da “síndrome do impostor”, uma vaca sem escrúpulos. Mas, embora essa não fosse a forma mais saudável de descobrir isso, entendi que esse era realmente o caminho por onde eu precisava começar.O medo pode paralisar, fazer você recuar na hora de avançar, mas também pode ser um aliado importante na tomada de decisões. Eu nunca ouvi falar de um medroso que correu na direção de um leão faminto — talvez um medroso suicida, mas não um medroso comum.
Obviamente, não sou coach de coisa nenhuma. Todos eles diriam que o medo é a pior coisa que você pode sentir. Mas eu discordo. E, se você é adepto(a) daqueles vídeos motivacionais com gente correndo sobre cacos de vidro, provavelmente não vai gostar do que vou dizer: o medo é uma das melhores coisas que você pode sentir — e, por causa dele, você ainda está vivo.
Claro que reconheço que, em excesso, o medo pode arruinar sua vida e seus projetos. Por isso, você precisa usá-lo a seu favor. O medo me ajudou a executar meu primeiro vestido de noiva. Eu queria fazer, mas estava apavorada. E, justamente por causa do medo, me cerquei de tudo que pudesse usar para encarar bem esse desafio. Sem o medo, talvez eu não tivesse obtido o resultado almejado.
Tanto o corajoso quanto o covarde sentem medo — a diferença está no posicionamento. Você provavelmente já ouviu essa frase: “Coragem não é ausência de medo.”Não sei se foi um filósofo grego, o tio do Homem-Aranha ou a tia da esquina quem disse isso, mas é uma frase que ensina algo importante: o medo não é o vilão — o vilão é a covardia. O medo é só uma ferramenta que separa os covardes dos corajosos.
Fiquei por muito tempo na equipe dos covardes. Fiquei quase o tempo necessário para desistir do meu projeto. Inclusive, foi por causa dessa covardia que demorei tanto para começar. O site levou quatro anos para ter o formato que tem hoje. E vou te confessar: só dei um basta nas modificações porque percebi que, se desistisse por insegurança quanto à formatação e outros pormenores, sofreria mais do que se simplesmente fracassasse .Eu decidi acreditar — e parar com as intervenções.
Entenda: ser corajoso é fazer algo que precisa ser feito apesar do medo. Então, se um dia você subir em uma montanha para se pendurar em uma pedra com a motivação de obter fotos para o Instagram, eu espero que, na sua lápide, esteja escrito “Aqui jaz um idiota”. Isso não é coragem. Ou seja: suas motivações não estão baseadas em algo necessário, apesar do medo, mas sim em vaidade — e esse sim é um sentimento perverso e muito perigoso.
Esse foi outro sentimento que quase me estrangulou. Eu estava tão obcecada em tentar adivinhar o que as pessoas gostariam de ver no meu site, o que elas gostariam de ler no blog e se eu tinha algo realmente interessante a compartilhar, que travei diversas vezes. Na verdade, ainda me pego preocupada com isso. Tanto que, embora o link para o meu site esteja na descrição da minha bio no Instagram, eu nunca fiz um story divulgando, nunca fiz propaganda do meu espaço virtual. Insegurança pela expectativa de aceitação.
Salomão diz, no livro de Eclesiastes, que tudo é vaidade. Já ouvi pastores e teólogos afirmarem que isso era um indício de que ele estava espiritualmente distante — um apóstata da fé. Eu penso o contrário. Acho que, quando Salomão se deu conta disso, nunca esteve tão próximo de Deus.
Se você é minha aluna, provavelmente já me ouviu dizer que abandonei a faculdade de Direito, que fui assistente jurídica antes de dar aulas de costura, e talvez também tenha ouvido que eu era muito boa nessa área. Foi triste perceber que eu contava essa história para me sentir um pouco mais importante. A história é verdadeira, mas deixou de ser parte fundamental da minha vida no momento em que pedi demissão e abandonei a faculdade.
Claro que posso tocar nesse assunto — tenho várias histórias de superação e aprendizado. Mas a maneira como eu incluía essa parte da minha vida nas conversas demonstrava como eu estava insegura e talvez infeliz com as minhas atuais escolhas. A primeira vez que percebi isso foi durante uma aula de costura com uma aluna. Eu comecei a falar: “Já te falei que abandonei a faculdade de Direito…”, e ela me interrompeu, completando: “…e que era muito boa no que fazia?” O tom dela não era de pouco caso, mas percebi que eu repetia aquela história mais do que deveria.
Precisei investigar minhas motivações para entender o que me levava a repetir essa história. Percebi que não era frustração por não ter virado advogada, mas o medo de ser subestimada por ser professora de costura. Eu precisava ter certeza de que as pessoas me consideravam inteligente, capaz, intelectualmente desafiadora. Também precisava me sentir parte daquele grupo que nossa sociedade chama de “bem-sucedidos” — ou, pelo menos, dos que um dia estiveram nesse caminho. Você sabe que sentimento é esse? Vaidade. Essa sim é uma vadia sem coração.
A vaidade é pior que o medo, porque o medo é sincero — a vaidade, não. Com a vaidade, demoramos a perceber nossas reais motivações. Ela nos submete às expectativas dos outros, mas se disfarça como se fossem nossas. Nossa preocupação é com a imagem — com o reflexo dela diante de quem nos rodeia. A vaidade nos transforma em escravos daquilo que esperam de nós. E, sem perceber, vamos vivendo uma vida que talvez nem quiséssemos de verdade. Mas, para não desapontar ninguém, continuamos. Porque mais importante do que viver a vida que realmente se quer é manter a imagem adequada diante dos outros.
O motivo para permanecer
Ainda não me vejo como uma pessoa corajosa, mas vou me dar uns pontinhos aqui: estou vencendo o medo de me expor e de me abrir em um blog.
Ainda não me vejo como alguém livre da vaidade, mas tenho que reconhecer algumas vitórias: apesar da constante preocupação com julgamentos e com a forma como sou avaliada como pessoa e profissional, sigo tentando ser sincera com meus projetos, tentando ser o mais verdadeira possível com minhas vontades e com tudo aquilo que realmente importa para mim. Este blog não é um projeto grande e não vislumbro uma virada no “quadro geral” — e é justamente por ser pequeno que ele é essencialmente uma parte de mim. Por isso, tenho o compromisso de ser o mais transparente possível com ele. Afinal, quero que você me conheça de verdade e entenda tudo o que a costura já fez por mim.
Esses são só alguns dos meus medos e questões com a vaidade. Existem outros que ainda não me sinto pronta para compartilhar. Mas só de chegar até aqui já sinto uma sensação de vitória. O medo ainda está lá. A vontade de agradar em detrimento das minhas vontades também. Mas agora me sinto parte da equipe dos corajosos que agem apesar dos receios.
Ah, e mais uma coisa importante a ser dita aqui: parei de dar desculpas e de tentar justificar o indesculpável e injustificável — e simplesmente voltei para a faculdade de Direito. Simples assim!
Espero te ver novamente em breve!
Beijos!
Haryane Santos
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