Projetos imperfeitos por pessoas imperfeitas
- haryane santos
- 16 de set. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: há 1 dia

Precisei me apegar às palavras que minha mentora disse na nossa primeira reunião, porque, do contrário, eu estaria desistindo do blog neste exato momento.
I - A expectativa frustrada
A maioria de nós está sempre em busca de algo que traga sentido ao nosso dia a dia — e, às vezes, esse sentido está em coisas completamente triviais, como uma casa com cercas brancas, um matrimônio, filhos, amizades verdadeiras, sucesso profissional, realização de projetos incríveis, dinheiro ou, no meu caso atualmente, o desejo simples de compartilhar as próprias experiências em um blog.
Existe uma infinidade de pessoas buscando coisas diferentes com o objetivo de obter realização pessoal. E, obviamente, eu não preciso dizer que parte do processo para chegar "lá" é passar por situações — e por pessoas — que, por motivos totalmente inocentes ou puramente egoístas, nos fazem pensar em desistir de algo que, em alguns casos, ainda nem começou.
Recentemente, comecei a escrever um blog — este que você está visitando agora. Já havia feito isso antes, mas tinha vergonha de divulgar o que escrevia e, por essa razão, meus textos acabavam em algum lugar escuro e solitário da internet. Bom, eu sou ótima em encorajar pessoas a se arriscarem em novas aventuras, mas não sou tão boa em fazer o mesmo por mim.
Foi então que decidi procurar uma pessoa completamente estranha: uma escritora que pudesse ler meus textos e me dizer como eu poderia melhorar. A nossa conversa não poderia ter sido melhor. O primeiro texto que mandei para ela foi “A história do vestido verde. Qual o tamanho da sua autoestima?”, e pude apreciar as seguintes palavras vindas dela: "Eu realmente achei seu texto interessante."
Talvez você comece a invalidar essa profissional só porque acha que eu não mereço tal elogio ou, pior, ache que inventei essa pessoa e o elogio que ela fez — só porque até umas semanas atrás você não fazia ideia de que eu gostava de escrever. Mas isso só no caso de você, leitor(a), me conhecer pessoalmente. É quase instintivo a gente invalidar as realizações de pessoas próximas a nós por causa da familiaridade.
Depois de publicar, enviei o link do texto para algumas pessoas que conheço, porque queria que lessem e me contassem o que acharam da história. Um dos comentários que recebi me chamou a atenção — não exatamente por seu conteúdo, entonação ou intenção aparente, mas principalmente pela forma como esse comentário ecoou dentro de mim.
A pessoa disse: “Eu li e parecia que estava lendo um texto simples.”
Confesso que não perguntei o que isso significava. A observação não era exatamente uma crítica, mas também não era um elogio. Dá a impressão de ser um comentário levemente capcioso, porque, se essa pessoa quisesse fazer um elogio, certamente o faria. E também não quis se indispor e verbalizar uma crítica. Mas, claramente, pelo tom, me pareceu algo que me fazia repensar se o que escrevi valia o tempo de ser escrito — ou lido.
Me dei conta de que o crítico em questão sabe um pouco sobre a minha vida, minhas fraquezas, minhas dúvidas e inseguranças, e talvez isso o tenha feito acreditar que eu não estava à altura dessa nova atividade. Claro que essa foi a leitura que fiz; não tenho como saber a real intenção daquelas palavras. Só tenho controle sobre o que senti naquele momento: dúvidas sobre o que estava tentando realizar.
II - Tá tudo bem não ser perfeito
Me agarrei a algumas coisas para não me sentir insegura: primeiro, no fato de que não existe a menor chance de eu conseguir agradar todo mundo — sejam conhecidos ou desconhecidos. Depois, me dei conta de que, assim como eu às vezes me interesso por coisas improváveis, sempre há alguém que pode se interessar pelo que tenho a dizer. E, por fim, lembrei que tive experiências no passado que me fizeram procurar, em primeiro lugar, alguém — minha atual professora — que tivesse propriedade para dar uma opinião imparcial sobre o que eu estava planejando realizar.
Sempre vai existir quem ame ou odeie o que você faz. E isso é bom. Afinal, críticos são importantes em qualquer empreendimento, seja profissional ou não. Na verdade, essas pessoas são ótimas para ajudar a manter o que é bom no seu projeto, eliminar o que é ruim e, em alguns casos, simplesmente ensinar a mandar à merda certas opiniões. Vai por mim: mandar à merda também é um bom sinal de crescimento.
Faz parte de quem eu sou, vez ou outra, supervalorizar minhas habilidades ou desvalorizá-las injustamente. Ou seja: é possível que você, neste momento, esteja lendo um “texto simples”, seja lá qual for a conotação disso. Mas o fato mais importante aqui é que, simples ou não, se estiver muito aquém das suas expectativas, preciso ser sincera e confessar: este é o máximo que tenho para oferecer agora — mesmo correndo o risco de perder você como leitor(a). Por favor, não vá!
Provavelmente, você encontrará aqui textos controversos, talvez até contraditórios — justamente porque sou um projeto inacabado, e sou capaz de mudar de ideia e repensar opiniões tantas vezes quanto for possível. Além disso, no que diz respeito à minha humanidade, sou indiscutivelmente imperfeita — e junto com a minha imperfeição estão todos os projetos, presentes e futuros, que carregarão para sempre o estigma dessa característica.
Mas um grande passo para mim é perceber que, embora eu queira um público lendo e curtindo o que escrevo, meu principal objetivo tem a ver com realização pessoal. Não apenas com o blog, mas com vencer o desafio da crítica — que, em mim, quase sempre paralisa. Estou disposta a superar essas inseguranças e realizar muitas coisas que, provavelmente, vão adoecer a mente de quem não coloca muita fé em mim.
Continuar, apesar das críticas, é algo que só conseguimos quando nos desprendemos da necessidade de agradar a todos. Se você realmente entender que está tudo bem nem todos amarem o que está fazendo, você vai realizar os seus planos — e vai ter a chance de melhorá-los. Porque é difícil começar um projeto perfeito. Normalmente, eles precisam de ajustes, e isso leva tempo. Mas lembre-se: só dá para melhorar algo que existe. É impossível ajustar um projeto que nunca começou.
A mesma característica que pode ser usada como justificativa para me desencorajar da conclusão de um objetivo é exatamente a que vou usar como prerrogativa para continuar: a minha completa, definida e irremediável imperfeição.
III - Faça acontecer
Meu conselho é que você comece seus projetos — mesmo imperfeitos. Aprenda a selecionar com quem irá compartilhar seus interesses e a quem pedirá opinião. Não por medo de uma crítica, mas para não precisar lidar com observações sem narrativa definida — e não se perder em comentários que não agregam nada, mas que podem te aprisionar em uma zona de dúvidas e inseguranças.
Num mundo ideal, conseguiríamos realizar tudo o que queremos apenas com palavras de incentivo. Mas, para ser justa, se conquistássemos tudo sem o filtro do questionamento, talvez não tivesse o mesmo gosto da vitória que vem quando superamos uma dúvida gerada em nós.
Saber que você passou no teste da insegurança e da dúvida sobre a própria capacidade de realização é um feito que nem todos conseguem.
Por fim, seja paciente com seus defeitos — porque é por causa deles que você continua aprendendo e evoluindo para ser alguém mais apto. Estou em um processo longo para me tornar um pouco melhor do que sou agora. Mas, se eu esperar ser perfeita para começar a realizar algumas coisas, então talvez eu nunca faça nada.
Um grande beijo!
Haryane Santos
Comments